O PREÇO DA IMPUNIDADE

19/05/2012 16:26

Duas motocicletas colidem e condutor  alcoolizado sai ileso.

 

Autor: * Ivaldo Reges de Carvalho Lima

 

            Como os leitores do transitoesperantina já sabem, sou agente de trânsito na cidade de Cocal-PI.

            A maioria da população de Cocal me conhece como o agente mais rígido do Departamento Municipal de Trânsito. Não faço nada além do que tentar cumprir o meu dever. Sei que sozinho não vou consertar o mundo, mas, cada um de nós dando sua parcela de contribuição, podemos minimizar os acidentes de trânsito, e diminuir a quantidade de mortes. Lembre-se do pequeno beija-flor tentando apagar o incêndio na floresta. Quando disseram que ele não conseguiria apagar sozinho, ele respondeu que estava somente fazendo a sua parte.

            Apesar do trânsito da cidade ainda não ser municipalizado(não se estar notificando), os crimes de trânsito, por serem crimes, estão sendo reprimidos e  julgados pelo Ministério Público de Cocal, e, se o condutor se envolver em acidente, os agentes fazem o levantamento do local, encaminham o formulário à polícia judiciária, e esta encaminha o Termo Circunstancial de Ocorrência-TCO para o Ministério Público que julgará de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro-CTB, e com o levantamento feito pelos Agentes de Trânsito.

Parte da população não aceita que o viver em sociedade deve ser regido por regras. Inclusive no trânsito. Essa parcela da sociedade que não aceita, é justamente aquela que mais desrespeita as regras de trânsito, e as leis em geral, e ainda diz ser eu, o agente mais rígido do departamento.

Certa vez parei uma garota que estava conduzindo uma motocicleta, suspeita de ser menor de idade(menor de 18 anos). Ao ser indagada a respeito de sua idade, respondeu que tinha 18 anos, mas, estava sem nenhum documento. Pedi que ela deixasse a motocicleta, e fosse em casa pegar seu documento. Quando ela voltou, constatei que realmente ela tinha 18 anos.

Seu pai me conhece desde que eu era menino, mas, simplesmente por eu fazer sua filha voltar em casa a pé, ele ficou chateado comigo. Como eu poderia adivinhar que se tratava de uma pessoa maior de idade? É obrigação para o cidadão andar com documento de identificação. Quantas vezes fui parado em blitz da polícia militar quando morava em Teresina, tendo minha mochila revistada em busca de armas e drogas? Mesmo assim, não ficava chateado. Pelo contrário, me sentia seguro. Até um agente de trânsito deixou de falar comigo, pois, não sendo possível parar sua irmã(menor de 18 anos), a qual conduzia uma motocicleta, anotei, e enviei ao judiciário. O próprio agente permitiu que sua irmã menor, trafegasse na motocicleta, pois ele é tutor da irmã. Que belo exemplo desse agente de trânsito(se é que podemos chamar de agente de trânsito). Eu não poderia fazer vista grossa, pois, assim eu estaria cometendo o crime de prevaricação, e estaria sendo injusto com todos aqueles que tiveram suas motocicletas apreendidas.

Conversando com o subcomandante do CIPTRAN, capitão Cláudio Pessoa, falei que ia desistir, e fazer vista grossa para esse tipo de coisa, pois, pessoas estavam se chateando comigo. Ele foi categórico quando disse: “não faça isso! Sempre que você reter um menor que esteja conduzindo veículo automotor, condutores embriagados, e etc., pense que você pode estar salvando a vida dele, ou de outrem”.

O Capitão tem toda razão. Lembre-se que recentemente em Esperantina, um condutor embriagado na direção do veículo matou uma criança. Sim! Foi homicídio, pois, quem dirige embriagado assume o risco de matar. Se ele tivesse sido retido pela polícia, agente de trânsito, ou cidadão(em Cocal um cidadão já reteu um condutor embriagado e chamou a polícia), a criança estaria viva. Tudo isso me dar forças para cumprir o meu dever. Estou a serviço da sociedade. Fico muito feliz quando alguém satisfeito com meu trabalho vem agradecer, falando que depois de nossas ações, o trânsito da cidade melhorou.

Também aconteceu recentemente em Cocal, com o pedreiro Regineudo. Este conduzia sua motocicleta tranquilamente, quando foi colidido lateralmente por um motociclista embriagado. O pedreiro quebrou a perna, teve várias lesões pelo corpo, inclusive uma forte pancada nas costelas, e ainda sua motocicleta avariada. Desde esse dia, até hoje, o pedreiro está se recuperando em casa com a perna engessada, sem trabalhar, esperando pelo seguro DPVAT. Certamente ele não queria estar nessa situação. O acidente poderia até mesmo ser fatal. O motociclista alcoolizado que causou o acidente saiu apenas com pequenas escoriações pelo corpo, e, acredite, ele é um GUARDA MUNICIPAL.

Fico muito apreensivo quando minha filha pega sua bicicleta, e vai passear. Pessoas inocentes podem ser vítimas de condutores imprudentes e negligentes.

 

Fica comprovado o que o capitão da polícia militar Cláudio Pessoa nos falou. Quando retiramos o infrator de circulação, poderemos estar salvando a vida dele ou de outrem.

 

 

* O autor é Agente de Trânsito na cidade de Cocal-PI, Instrutor de Trânsito em auto escolas, capacitado através de curso específico para realizar Levantamento de Locais de Acidentes de Trânsito, e Transporte de Produtos Perigosos - MOPP, com formação de nível superior incompleto no curso de Licenciatura Plena em Física pela Universidade Federal do Piauí – UFPI.

 

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